01. (ENEM) “De repente lá vinha um homem a cavalo. Eram dois. Um senhor de fora, o claro de roupa. Miguilim saudou, pedindo a bênção. O homem trouxe o cavalo cá bem junto. Ele era de óculos, corado, alto, com um chapéu diferente, mesmo. – Deus te abençoe, pequenino. Como é teu nome? – Miguilim. Eu sou irmão do Dito. – E o seu irmão Dito é o dono daqui? – Não, meu senhor. O Ditinho está em glória. O homem esbarrava o avanço do cavalo, que era zelado, manteúdo, formoso como nenhum outro. Redizia: – Ah, não sabia, não. Deus o tenha em sua guarda... Mas que é que há, Miguilim? Miguilim queria ver se o homem estava mesmo sorrindo para ele, por isso é que o encarava. – Por que você aperta os olhos assim? Você não é limpo de vista? Vamos até lá. Quem é que está em tua casa? – É Mãe, e os meninos... Estava Mãe, estava Tio Terez, estavam todos. O senhor alto e claro se apeou. O outro, que vinha com ele, era um camarada. O senhor perguntava à Mãe muitas coisas do Miguilim. Depois perguntava a ele mesmo: – Miguilim, espia daí: quantos dedos da minha mão você está enxergando? E agora?”
Esta história, com narrador observador em terceira pessoa, apresenta os acontecimentos da perspectiva de Miguilim. O fato de o ponto de vista do narrador ter Miguilim como referência, inclusive espacial, fica explicitado em:
02. (FUVEST-SP) Olhava mais era para Mãe. Drelina era bonita, a Chica, Tomezinho. Sorriu para Tio Terêz: – “Tio Terêz, o senhor parece com Pai...” Todos choravam. O doutor limpou a goela, disse: – “Não sei, quando eu tiro esses óculos, tão fortes, até meus olhos se enchem d’água...” Miguilim entregou a ele os óculos outra vez. Um soluçozinho veio. Dito e a Cuca Pingo-de-Ouro. E o Pai. SEMPRE ALEGRE, MIGUILIM... SEMPRE ALEGRE, MIGUILIM... Nem sabia o que era alegria e tristeza. Mãe o beijava. A Rosa punha-lhe doces-de-leite nas algibeiras, para a viagem. Papaco-o-Paco falava, alto, falava.
Neste trecho de “Campo Geral”, de Guimarães Rosa, as expressões em maiúsculo retomam, ao final da narrativa,
Instrução: Leia o texto a seguir para responder à questão 03.
Miguilim espremia os olhos. Drelina e a Chica riam. Tomezinho tinha ido se esconder. – Este nosso rapazinho tem a vista curta. Espera aí, Miguilim... E o senhor tirava os óculos e punha-os em Miguilim, com todo o jeito. – Olha, agora! Miguilim olhou. Nem não podia acreditar! Tudo era uma claridade, tudo novo e lindo e diferente, as coisas, as árvores, as caras das pessoas. Via os grãozinhos de areia, a pele da terra, as pedrinhas menores, as formiguinhas passeando no chão de uma distância. E tonteava. Aqui, ali, meu Deus, tanta coisa, tudo... O senhor tinha retirado dele os óculos, e Miguilim ainda apontava, falava, contava tudo como era, como tinha visto. Mãe esteve assim assustada; mas o senhor dizia que aquilo era do modo mesmo, só que Miguilim também carecia de usar óculos, dali por diante. O senhor bebia café com eles. Era o doutor José Lourenço, do Curvelo. Tudo podia. Coração de Miguilim batia descompassado, ele careceu de ir lá dentro, contar à Rosa, à Maria Pretinha, a Mãitina. A Chica veio correndo atrás, mexeu: – “Miguilim, você é piticego...” E ele respondeu: – “Donazinha...” Quando voltou, o doutor José Lourenço já tinha ido embora.
03. A narrativa “Campo Geral”
I. desenvolve-se num universo fantástico, corroborado pela subversão da linguagem.
II. não retrata as experiências afetivas entre Miguilim e as outras personagens, pois o foco está nas ações dele.
III. é escrita em terceira pessoa, mas a história é filtrada pela perspectiva do menino Miguilim.
Está(ão) correta(s)
04. (UFG) Diversos motivos narrativos compõem a trama de “Campo Geral”, texto da obra Manuelzão e Miguilim, de Guimarães Rosa. Qual o motivo narrativo principal para a composição do enredo desse conto?
Instrução: Leia o texto a seguir para responder à questão 05.
Estava Mãe, estava tio Terêz, estavam todos.
O senhor alto e claro se apeou.
O outro, que vinha com ele, era um camarada.
O senhor perguntava à Mãe muitas coisas do Miguilim.
Depois perguntava a ele mesmo:
– “Miguilim, espia daí: quantos dedos da minha mão você está enxergando?
E agora?”Miguilim espremia os olhos. Drelina e a Chica riam. Tomezinho tinha ido se esconder.
– Este nosso rapazinho tem a vista curta.
Espera aí, Miguilim...
E o senhor tirava os óculos e punha-os em Miguilim, com todo o jeito.
– Olha, agora! Miguilim olhou.
Nem não podia acreditar! Tudo era uma claridade, tudo novo e lindo e diferente, as coisas, as árvores, as caras das pessoas.
Via os grãozinhos de areia, a pele da terra, as pedrinhas menores, as formiguinhas passeando no chão de uma distância.
E tonteava. Aqui, ali, meu Deus, tanta coisa, tudo...
O senhor tinha retirado dele os óculos, e Miguilim ainda apontava, falava, contava tudo como era, como tinha visto. Mãe esteve assim assustada: mas o senhor dizia que aquilo era do modo mesmo, só que Miguilim também carecia de usar óculos, dali por diante. O senhor bebia café com eles. Era o doutor José Lourenço, do Curvelo. Tudo podia. Coração de Miguilim batia descompassado, ele careceu de ir lá dentro, contar à Rosa, à Maria pretinha, à Mãitina. A Chica veio correndo atrás, mexeu:
– Miguilim, você é piticego...
” E ele respondeu:
– “Donazinha...”
05. (IFNMG) Com base em seus conhecimentos acerca da prosa produzida por Guimarães Rosa, pode-se afirmar que as características comuns a sua escrita comparecem nesse trecho, EXCETO:
06. (FUVEST-SP) Considere atentamente as seguintes afirmações sobre a novela “Campo geral” (“Miguilim”), de Guimarães Rosa:
I. A sabedoria precoce do pequeno Dito é decisiva para o aprendizado de Miguilim, seja nas experiências imediatas do cotidiano, seja na investigação do valor e do sentido profundos dessas experiências.
II. Por meio da personagem Miguilim, o autor nos mostra que a vida rústica do sertanejo é pobre como experiência - o que pode ser compensado pela imaginação poética de quem sabe desligar-se daquela vida.
III. No momento final da narrativa, é em sentido literal e simbólico que um novo mundo se revela para Miguilim - mundo que também se abre para uma vida de novas experiências.
A leitura atenta da novela permite concluir que apenas:
07. (UFRGS / Adaptada) Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações sobre sentimentos de personagens de “Campo Geral”, da obra Manuelzão e Miguilim, de Guimarães Rosa.
( ) Miguilim, muitas vezes, odiava seu Pai, pela violência das surras e castigos que ele lhe impunha: mandar embora a cadela, ou soltar os passarinhos que estavam nas gaiolas.
( ) Seo Deográcias, homem alto, alegre e bonito, curou Miguilim do medo de morrer com a graça de suas falas e a beleza de suas cantigas.
( ) Miguilim tinha dúvidas se o Mutum era ou não um lugar bonito, mas, com a ajuda dos óculos do doutor, acabou finalmente descobrindo que se tratava de um lugar bonito.
( ) Dito sentiu inveja de Miguilim porque Papaco-o-Paco era capaz de dizer “– Miguilim, Miguilim, me dá um beijim”, mas não conseguia pronunciar “Dito”.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é
08. Várias passagens de “Campo Geral”, de João Guimarães Rosa, evidenciam referências a doenças e/ou sintomas de doenças, evidenciando o conhecimento médico de Guimarães Rosa, EXCETO em:
09. (PUC-Campinas-SP) Na novela “Campo Geral”, de Guimarães Rosa, o leitor compreenderá que as sofridas experiências de menino no Mutum permitirão que o protagonista, quando adulto,
10. (UEG) O trecho a seguir refere-se à próxima questão: – “Mãe, que é que fizeram com o resto da roupinha do Dito?” – agora ele queria saber. – “Está guardada, Miguilim. Depois ela ainda vai servir para Tomezinho.” “– Mãe, e as alpercatinhas do Dito?” “– Também, Miguilim. Agora descansa.”Miguilim tinha mesmo que descansar, perdera a força de aluir com um dedo. Suava. Suava.
A respeito da prosa de Guimarães Rosa, na obra Manuelzão e Miguilim, exemplificada pelo trecho citado de “Campo Geral”, assinale a alternativa INCORRETA:
11. Leia o excerto abaixo, extraído do final da novela “Campo Geral”, de João Guimarães Rosa:
“Miguilim espremia os olhos. Drelina e Chica riam. Tomezinho tinha ido se esconder.
– Este nosso rapazinho tem a vista curta. Espera aí, Miguilim...
E o senhor tirava os óculos e punha-os em Miguilim, com todo o jeito:
– Olha agora!”
Essa cena mostra o momento em que um médico, de passagem pelo Mutum, submete o pequeno Miguilim a uma espécie de consulta, diagnosticando sua miopia. No contexto da narrativa, a miopia, afecção ocular muito comum, é metaforizada, adquirindo importante simbologia.
Redija um parágrafo, explicando a simbologia da miopia no contexto da novela “Campo Geral”.
12. Leia o excerto da novela “Campo Geral”, de Guimarães Rosa, prestando especial atenção aos usos linguísticos nele presentes:
“Seo Aristeu entrava alto, alegre, alto, falando alto, era um homem grande, desusado de bonito, mesmo sendo roceiro assim; e doido mesmo. Se rindo com todos, fazendo engraçadas vênias de dançador.
– “Vamos ver o que é que o menino tem, vamos ver o que é que o menino tem?!... Ei e ei, Miguilim, você chora assim, assim – p’ra cá você ri, p’ra mim!... Aquele homem parecia desinventado de uma estória – “o menino tem nariz, tem boca, tem aqui, tem umbigo, tem umbigo só...” – Ele sara, seo Aristeu?” “– ... Se não se tosar a crina do poldrinho novo, pescoço de poldrinho não engrossa. Se não cortar as presas do leitãozinho, leitãozinho não mama direito... Se não esconder bem pombinha do menino, pombinha voa às aluadas... Miguilim_ bom de tudo é que tu’tá: levanta, ligeiro e são, Miguilim...”
Essa cena revela o momento em que Seo Aristeu, misto de caçador, poeta popular e curandeiro, tira Miguilim da cama, salvando-o do medo de morrer. Em sua fala, Aristeu faz uso de uma linguagem bastante original, ilustrando o caráter poético da obra de Guimarães Rosa, o qual inclusive batizou de “poemas” as novelas escritas para o livro Corpo de Baile (1956), depois desmembrado em Manuelzão e Miguilim (1964) e outros volumes.
Redija um texto, justificando, com base no excerto dado, por que o termo “prosa poética” pode ser aplicado à novela “Campo Geral”.
13. Os fragmentos a seguir revelam que o enfrentamento de doenças, experiência comum na infância, constitui um dos núcleos temáticos da novela “Campo Geral”, obra na qual Guimarães Rosa se vale também de seus conhecimentos médicos para retratar o dia a dia de uma família sertaneja:
Fragmento I
“Miguilim pergunta à Rosa: – Rosa, que coisa é a gente ficar héctico?” – Menino, fala nisso não. Héctico é tísico, essas doenças derrói no bofe, pessoa vai minguando fraca, não esbarra de tossir, chega cospe sangue...”
Fragmento II
“Meu-deus-do-céu, e o Dito já estava mesmo quase bom, só que tornou outra vez a endefluxar, e de repente ele mais adoeceu muito, começou a chorar – estava sentindo dor nas costas e dor na cabeça tão forte, diziam que estavam enfiando um ferro na cabecinha dele.”
Redija um texto dissertativo caracterizando as situações descritas nos fragmentos I e II e estabelecendo as diferenças existentes entre a experiência de Miguilim com a tuberculose e a de Dito com o tétano.